Moradores de Japeri, na Baixada Fluminense, não sabem para onde correr quando precisam de médico. Das 11 unidades de saúde do município, oito fecharam. E nas que continuam abertas, falta tudo. A Policlínica de Japeri se transformou num posto de saúde fantasma.
Débora de Azevedo, de 10 anos, está com o joelho inchado, sente muita dor e precisa de tratamento adequado. “Os médicos são bons, mas aqui não tem nada, não tem nada para eles trabalhar. Fiquei triste”, disse.
O pai da paciente disse que o médico suspeita de uma inflamação no joelho. "Ela precisa do exame de sangue, entendeu? Para passar o remédio adequado para ela. Não consegue nem andar direito, entendeu? Aí eu estou há horas esperando para fazer exame e agora, porque a equipe de reportagem do Bom Dia Rio apareceu, apareceu alguém lá. Estava até de folga”.
O médico passou o medicamento ele passou medicamento. Diclofenaco, que é tão barato na farmácia e não tem na unidade.
A Policlínica de Japeri é a principal unidade de saúde do município. A única com atendimento 24 horas. O Bom Dia Rio teve acesso a imagens feitas dentro da Policlínica. Elas mostram que a sala de coleta de sangue está suja e com fios aparentes. Várias enfermarias foram desativadas. Uma delas tem infiltração, faltam lâmpadas e não tem limpeza. O armário de materiais está vazio. E macas e cadeiras ficam jogadas num canto, onde o mofo toma conta.
A UTI foi desativada. Por todo lado tem equipamentos que não funcionam. Um dos banheiros está quebrado. E há muito tempo a lavanderia está fora de operação. A sujeira vai tomando conta.
O pedreiro Rafael Pimenta foi até a Policlínica porque cortou a testa. “Não tem material para fazer o ponto, um ponto, ou dois, sei lá. Eles trabalham direitinho, mas não tem recurso, fazer o quê? ”, lamentou o paciente.
O pedreiro José Luiz da Silva conta que todos correm para lá quando não vai para o Hospital da Posse, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. “ A Posse está lotada. Não tendo opção nenhuma aqui, já viu, né? ”, resumiu a situação.
Uma senhora estava com furúnculo e saiu sem tratamento porque não havia remédio na unidade. O posto do Samu trabalhava em conjunto com a Policlínica de Japeri. Os funcionários transportavam pacientes em estado grave para unidade. Mas por falta de verba, o posto fechou.
Além da Policlínica, Japeri tinha dez postos de saúde abertos. Agora, só tem dois. A justiça deu um prazo até esta segunda-feira (7) para a prefeitura explicar os motivos do fechamento das oito unidades.
Segundo o ex-secretário de Saúde de Japeri, Fabiano Brun Rodrigues, a prefeitura resolveu fechar os postos para economizar. “O que que o prefeito decidiu? Fazer o fechamento destes postos para economizar os recursos públicos e pagar os fornecedores, o que é um ato de improbidade. A saúde em Japeri está largada, está abandonada, e eu venho fazendo denúncias há 60 dias”, disse Rodrigues, que denunciou o fechamento ao Ministério Público.
Os funcionários da Policlínica ainda relatam a insegurança do local. “Chegaram três indivíduos aqui, um estava com uma perfuração à bala. Um médico que estava de plantão tinha saído numa ocorrência. Eles entraram no hospital arrombando as portas, ameaçando os funcionários, dizendo que tinha que resolver o problema, os funcionários se trancaram dentro do banheiro. Nós não temos vigilante, não temos policial. Nós ficamos aqui à mercê dos bandidos”, contou o funcionário.
Um drama sem fim, Pacientes reclamam que não há uma injeção sequer para parar a dor. Segundo eles, faltam médicos, remédios, material de limpeza, água e até combustível para a ambulância.
A produção do Bom Dia Rio procurou a Prefeitura de Japeri no domingo (6), mas a manhã desta segunda-feira (7) não foi recebida nenhuma resposta.
Fonte: G1
07/11/2016
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